Histórico de Contato e Resistência
A história dos Gavião Pykopjê é marcada por uma relação complexa com o mundo não-indígena. Pertencentes ao grupo Timbira, do tronco linguístico Macro-Jê, os Pykopjê viviam em territórios entre os rios Tocantins e Grajaú, no sudoeste do Maranhão. O contato com a sociedade envolvente se intensificou no final do século XVIII, através de frentes colonizadoras e atividades pecuaristas que se expandiam sobre territórios indígenas.
Durante o século XIX, os Pykopjê resistiram a vários ataques de criadores de gado e seringueiros. Conhecidos por sua organização militar e técnicas de guerra, impuseram respeito até mesmo a grupos vizinhos. Por volta de 1850, foram forçados a um contato mais direto com o Estado brasileiro, resultando em perdas territoriais e demográficas. Na década de 1950, com a construção da rodovia Belém-Brasília, voltaram a sofrer pressões violentas de invasores, sendo obrigados a abandonar aldeias tradicionais. A violência culminou em um massacre em 1976, que levou à ação emergencial da FUNAI e, posteriormente, à demarcação da Terra Indígena Governador, reconhecida em 1982.
Cultura e Tradições
A cultura dos Pykopjê é viva, ritualística e profundamente conectada à natureza. Seus rituais celebram tanto o ciclo agrícola quanto os momentos de transição da vida social. Um dos rituais mais conhecidos é a corrida de toras (takaha), onde homens e mulheres competem carregando toras de madeira, demonstrando força física e solidariedade coletiva.
Entre as características que diferenciam essa etnia está a utilização de máscaras de palha de buriti em suas danças cerimoniais, simbolizando espíritos ancestrais e seres da floresta. As festas, conhecidas como amji kin, incluem celebrações do milho, da mandioca e do novo ano Timbira, com cantos e instrumentos musicais tradicionais que contam a história da comunidade.
Os Pykopjê também mantêm sua própria língua, um dialeto Timbira que é ensinado às crianças e praticado diariamente nas aldeias. Esse processo de educação bilíngue é fundamental para a continuidade da identidade cultural.
Protagonismo Feminino na Subsistência das Aldeias
As mulheres Gavião Pykopjê são o alicerce da vida comunitária. Elas lideram as atividades agrícolas, garantindo a segurança alimentar da aldeia por meio do cultivo de milho, mandioca, batata-doce e feijão. Também são as principais responsáveis pela coleta de frutas, sementes e materiais naturais que abastecem o artesanato local.
Mais do que isso, as mulheres assumem um papel central na produção de adornos corporais, como pulseiras e colares feitos com sementes e miçangas. Cada peça é fruto de um saber tradicional transmitido por gerações, onde o fazer manual é também um ato espiritual. Esses objetos carregam mitos, narrativas e a relação sagrada com a floresta.
A renda gerada pelo artesanato é fundamental para a autonomia financeira das mulheres e tem possibilitado o acesso a cuidados de saúde, educação e mobilidade para a comunidade. Essa independência econômica é, ao mesmo tempo, uma forma de resistência cultural e a importância do protagonismo feminino dentro e fora da aldeia.
Preservação e Valorizacão Cultural
A resistência dos Pykopjê é um ato contínuo de preservação do território e da biodiversidade. A forma como cultivam, coletam e produzem respeita os ciclos naturais e não agride o meio ambiente. O conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais, os recursos da floresta e o manejo da terra forma um saber ecológico ancestral, hoje reconhecido por instituições acadêmicas e ambientais.
Mesmo com as ameaças constantes às suas terras por garimpeiros, madeireiros e grileiros, os Pykopjê têm mantido sua organização social, linguística e espiritual viva. Projetos de etnoturismo, escolas indígenas bilíngues e a comercialização de produtos artesanais são algumas das formas pelas quais mantêm sua cultura ativa e se adaptam aos desafios do presente.
Valorizar a história dos Gavião Pykopjê é reconhecer a força de um povo que continua a proteger a floresta, a sabedoria ancestral e os direitos das mulheres indígenas em pleno século XXI.
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Fontes:
Instituto Socioambiental (ISA); Antropos.org.uk; Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia; Publicações do Museu do Índio/FUNAI.