Os Kayapó, autodenominados Mebêngôkre ("povo verdadeiro"), ocupam tradicionalmente áreas na porção sudeste do Pará e trechos do norte do Mato Grosso, no coração da Amazônia brasileira.
Antes do contato com não indígenas, viviam em aldeias móveis, adaptando-se às estações de chuva e seca. Com a chegada de seringueiros e missionários no século XIX, iniciaram-se conflitos que culminaram em doenças epidêmicas e deslocamentos forçados.
Na década de 1950, o governo brasileiro promoveu projetos de integração que impuseram aldeias fixas e escolas bilíngues; porém, a resistência kayapó manteve viva a língua e práticas tradicionais. A partir dos anos 1970, com a derrubada de grandes áreas de floresta para a pecuária, intensificaram-se as disputas por territórios.
Lideranças como Ailton Krenak (parceiro em redes indígenas) e Raoni Metuktire ganharam projeção nacional e internacional ao denunciar o desmatamento e o garimpo ilegal, ativando redes de solidariedade e mobilizações que garantiram demarcações como a Terra Indígena Xingu, de mais de 11 milhões de hectares, protegida por lei federal.
Cultura Kayapó
A organização social kayapó baseia-se em laços de parentesco patrilineares e alianças matrimonialas estratégicas entre aldeias. Cada aldeia é concebida em formato circular, com o oca coletivo (casa ritual) no centro e as casas familiares dispostas ao redor, simbolizando a integração da comunidade.
A fala e a arte se manifestam em pinturas corporais geométricas de tonalidades vermelhas, pretas e amarelas, aplicadas com cinzas de caroço de pequi, urucum e carvão, com padrões que identificam clã, idade e status rituais.
Homens usam o labret (disco de madeira no lábio inferior) para marcar a passagem à fase adulta, enquanto as mulheres compartilham grafismos referentes à gestação e ao cuidado com a comunidade.
Artesanato em cestaria e plumária, além da confecção de arcos, flechas e cocares, expressa o conhecimento profundo das espécies vegetais e das migrações de aves, transmitido oralmente de geração a geração.
Cosmologia e Visão de Mundo
Para os Kayapó, o universo é multitier, composto pelo mundo dos humanos (Mebengôkre), pelos lugares sagrados das plantas e animais (Pàkra) e pelo reino dos espíritos, os "mais-que-humanos". Estes seres — como o Iwèkrin (guardião das águas) e o Tybôrekô (espírito do arco-íris) — interagem com os humanos por meio de sonhos e visões, orientando caçadas e colheitas. Mitos de criação narram a origem dos rios, florestas e planetas: contam que o planeta Júpiter (Jykre) foi presenteado pelos seres cósmicos para marcar o equilíbrio entre força e generosidade.
A medicina tradicional kayapó combina rituais xamânicos e o uso de mais de 200 espécies de plantas medicinais, reforçando a interconexão entre saúde individual e equilíbrio ambiental.
Costumes e Tradições
Entre as principais cerimônias estão:
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Ritual de Iniciação (Potlatch Kayapó): marcado pela passagem de jovens à vida adulta, envolve jejuns, caça simbólica e pinturas especiais que duram semanas.
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Festa do Capim (Kretekó): celebração pós-colheita, com danças circulares ao som de flautas de taquara e tambores de madeira, em homenagem às forças da terra.
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Nomeação (Metokô): após o primeiro ano de vida, a criança recebe nomes que remetem a eventos naturais ou sonhos dos anciãos.
A divisão de tarefas respeita o equilíbrio: mulheres lideram o preparo de alimentos, cultivo de mandioca e coleta de frutas, enquanto homens se dedicam à caça, pesca e confecção de ferramentas.
A transmissão oral de histórias — por meio de cantos e narrativas noturnas — assegura o repasse do conhecimento ancestral, consolando laços de pertencimento entre gerações.
Peculiaridades Interessantes
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Pinturas Corporais Geométricas: reconhecidas internacionalmente pela simetria e cores vibrantes, usadas em rituais de cura e proteção, expressam identidade coletiva e pessoal.
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Mobilização Política Avançada: uso de drones, internet via rádio e redes sociais para mapear invasões e denunciar crimes ambientais, articulando-se com ONGs e instituições como o ISA (Instituto Socioambiental).
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Artesanato Comercial: mesclam técnicas tradicionais com demandas do mercado, produzindo peças como colares de miçangas e cestaria decorativa, valorizando matérias-primas locais e promovendo geração de renda sem descaracterizar práticas culturais.
- Narrativas Originais no Mundo Digital: histórias como "O Pensamento das Moscas", publicadas em blogs indígenas e perfis oficiais, conectam mitos tradicionais a desafios contemporâneos, reforçando a voz kayapó no debate sobre mudanças climáticas e direitos originários.
A etnia Kayapó simboliza a força de um povo que equilibra tradição e inovação, ensinando que a preservação da floresta e da cultura indígena são fundamentais para a sustentabilidade de todos nós.
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